24 de ago. de 2016

2 poemas inéditos

Em outubro será parido, através da Editora Urutau, meu novo volume de poemas inéditos, intitulado Galáxia Pupila. Enquanto isso, leveza, respiração, Minas Geraes e dois poemas exclusivos acompanhados dos desenhos da querida artista Renata Ragazzo
(entredobras.com.br)




e os dias, este porco do pantanal                    
arruando pelo quintal,                       
depredando a aorta,                     
pisoteando as rúculas                      
e mordendo a maçã do rosto                          

como se bicasse um hímen                             
ou mastigasse um galpão de zinco.

de um lado se ouve                                    
os dentes de aço do garfo                 
deslizando pela barriga fumê de um vitral;
do outro lado do cérebro                                 
é como se uma água de pia         
escorresse no rosto pela manhã.
mas uma capivara desnutrida, zonza    
escora no canto superior do cérebro          
e atinge este poema;
                            criado mudo sendo arrastado
                            de madrugada.

a sensação de ver um pavão alçar voo,
o besouro romper a pupa,
a égua parir seu potro no pasto,
a polinização das plantas,
a mendiga dizendo um bom dia
e o beijo entre dois meninos gays negros
te estica por dentro
cem anos luz
adentro de si mesmo.

foco no confeiteiro que manuseia o açúcar e o glacê
mesmo com tanta amargura e acidez ao seu derredor.

tende a ser uma usina de produção de êxtases,
dentro de uma outra engrenagem,
porém enferma e, ainda por algum tempo, azul.

medir-se na mesma altura do solo,
e não ser degradado
por um coquetel de agrotóxicos.
composto por um corpo
com o fêmur e o córtex que couberam perfeitamente
dentro de uma alucinação e de um entusiasmo
                                                                           da silvia plath.













procurando quem soletre perfeitamente               
o superlativo sossegadíssimo  
sentado no meio do mapa-múndi.

a tela de led lcd
    versus
a constelação de capricórnio
disputam quem abocanhará
nosso globo ocular.

patos, cabritos, frangos, pacas
e porcos são abatidos ilegalmente
dentro do nosso cérebro cotidianamente.

certas relações
faz-nos faquiresas confinadas dentro de alguns sentimentos.
noutros a sensação de um
relincho no pasto durante a madrugada
ou instigada máquina de solda no fundo escuro da oficina.

e sempre procuramos uma botica na enfermidade.
e teimamos movediços e escoados no engessamento.

mesmo distraídos, subúrbios distantes,
precisando de bastante bosta de gado
                                    para adubar-nos,
cada centímetro desses vasos sanguíneos ;
com todas as glândulas deste corpo,
mesmo diante desta afobação
                          cinza-metálica,
podem inaugurar usinas com energia
                    mais positiva e radioativa
                 que todas as termoelétricas,
                                       eletronucleares
                   e hidroelétricas.

saber agir com
sinuosidades

no plano linear.